Há pouco mais de um ano consegui publicar na revista Vocábulo, do curso de Letras do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto - SP, um artigo que se propunha a fazer uma leitura psicanalítica de Naruto.
Concebido inicialmente para fins de avaliação numa das disciplinas do Mestrado em Literatura, esse artigo foi, até o momento, a mais gratificante das produções acadêmicas que já pude levar a efeito, ao lado do TCC, defendido em 2014, e que contemplava uma problematização da morte e do luto a partir do anime Ano Hana. A satisfação de escrevê-lo foi tanta que quis publicá-lo e, felizmente, consegui. Segue abaixo a transcrição do mesmo e, caso desejem ver o texto na versão em PDF, segue o link para a edição da revista Vocábulo:
http://www.baraodemaua.br/comunicacao/publicacoes/vocabulo/pdf/10/8_semblantes_do_incosciente_em_naruto_10.pdf
“Sou onde não penso”: semblantes do
Inconsciente em Naruto
1
Introdução
Fenômeno dos mais característicos de
uma contemporaneidade assinalada pelo intercâmbio de valores culturais e visões
de mundo, a literatura pop japonesa apresenta-se como algo bem maior do que um
lucrativo filão no mercado do entretenimento. Unindo elementos comuns ao
Ocidente e ao Oriente, essa vertente da cultura pop dominada sobretudo pela
produção de mangás (as histórias em quadrinhos nipônicas) e animes (seriados de
animação), chama a atenção também pela profundidade com que tende a abordar
questões existenciais profundas, ao mesmo tempo em que as problematiza de forma
sutil, porém intensa.
O presente estudo enfoca uma das
produções de maior sucesso de público desse segmento na atualidade: Naruto, de Masashi Kishimoto. Iniciada
em 1999, a obra em questão alcançou grande popularidade dentro e fora do Japão,
justamente por tratar de dilemas comuns à própria condição humana, a despeito
de diferenças culturais quaisquer. Acerca destes mesmos dilemas, verifica-se
uma significativa aproximação entre alguns elementos da narrativa e os
conceitos veiculados pela Psicanálise, no que tange aos impositivos da cultura
e da sociedade para com o indivíduo, aqui compreendido enquanto sujeito para
além da razão pura e simples.
Ao
considerar a tensão entre desejo e razão, indivíduo e coletividade em O mal-estar na civilização, Freud (1996)
levou a Psicanálise para além do campo clínico puro e simples, inaugurando uma
visão filosófica que considerava tanto o contexto sócio-histórico e político,
quanto o sujeito e sua singularidade. O estudo que se segue propõe uma
abordagem da narrativa de Kishimoto considerando a Psicanálise não como um
saber atrelado apenas às lides psicológicas, mas como um modelo filosófico
capaz de buscar no sujeito as configurações psíquicas decorrentes da cultura,
bem como os mecanismos que se opõem a tais imperativos, na interminável jornada
do homem em busca de si mesmo.
2
O
mundo ninja de Masashi Kishimoto
Naruto
é certamente a obra máxima de Masashi Kishimoto. Iniciada pelo referido
quadrinista em 1999 e concluída em 2014, a trama tem lugar num mundo paralelo
onde elementos comuns ao folclore oriental se mesclam à cena contemporânea.
Além do mangá, a série também ganhou uma versão animada para a televisão que
foi ao ar pela primeira vez em 2002, seguindo em exibição até os dias de hoje.
O
mundo concebido por Kishimoto é formado prioritariamente por aldeias ninja,
havendo cinco mais poderosas a saber: a Folha, a Areia, a Nuvem, a Pedra e a
Névoa. Cada uma dessas aldeias está oculta no coração das cinco maiores nações
que são, respectivamente: o País do Fogo, o País do Vento, o País do Raio, o
País da Terra e o País da Água. Outras nações menores também compõem o continente
onde se desenrola a trama. Em algumas também existem aldeias ninja de menor
relevo, como a Grama, a Chuva, o Som, a Cachoeira etc. Não obstante, o foco
narrativo é mantido sempre na Aldeia da Folha, a mais antiga e próspera das
cinco grandes vilas.
O modelo administrativo é muito semelhante ao
do Japão na era feudal. Cada país é governado por um daimyou (senhor feudal) que a seu turno, mantém financeiramente as
aldeias ninja na qualidade de suporte militar para períodos de guerra. Durante
os períodos de calmaria, as vilas Shinobi[2]
servem como o fiel da balança para garantir o equilíbrio político entre os
países. Apesar de receber recursos do governo de cada nação, as aldeias primam
pela autonomia. Os ninjas de cada vila realizam serviços que podem ir desde a
localização de animais de estimação até a escolta de chefes de estado em
missões diplomáticas. A prestação de serviços é fundamental para o erário das
aldeias, uma vez que garante o funcionamento das mesmas sem que haja uma
dependência sistemática destas para com os senhores feudais. Apesar de
integrarem uma estrutura administrativa maior, as vilas Shinobi compõem Estados paralelos onde a cultura, a economia e a
organização social giram em torno da formação de guerreiros e estrategistas, à
semelhança do que ocorria com Esparta, na Grécia Antiga.
O
personagem principal e que dá nome ao mangá, é um garoto órfão de doze anos,
nascido na Folha numa data fatídica para todos os habitantes da Aldeia: o
ataque da Raposa de Nove Caudas. Essa besta mística, uma das nove que compunham
a Besta Primordial de Dez Caudas, foi selada pelo então líder da vila no pequeno
Naruto logo após o seu nascimento. Posteriormente, descobre-se que Naruto é na
verdade o filho de Minato Namikaze, o Quarto Hokage[3],
que se sacrificou juntamente com a esposa, Kushina Uzumaki, para garantir que a
vila não fosse destruída. Kushina era inicialmente a Jinchuuriki[4] da
Raposa. A mesma foi extraída de si por ocasião do parto, quando o selo que
mantinha a besta sob controle foi quebrado e um antigo discípulo de Minato
decidiu lançar a criatura contra a Folha, como prelúdio para o que ele chamava de
“novo mundo”. Com muito custo, o então Hokage
consegue deter o misterioso inimigo mascarado, mas nem ele e nem Kushina
poderão estar perto de Naruto para vê-lo crescer e fazer dele um grande Shinobi. Ambos se sacrificam para
garantir que o filho sobreviva e possa deter as ambições malignas do inimigo
que surgiu naquela noite, confiando-lhe para isto o imenso poder da Raposa de
Nove Caudas, da qual ele passa a ser o novo portador.
Naruto
cresce sem tomar conhecimento do segredo que abriga e ignorando igualmente que
é filho do maior herói da vila. Hiruzen Sarutobi, o Terceiro Hokage que havia deixado o posto em
favor de Minato, reassume o comando da Folha e acompanha de perto o garoto,
provendo-o em suas necessidades escolares e financeiras. O menino, porém, é o
pior aluno da academia ninja. Esmera-se em praticar todo tipo de travessura e é
tratado com desprezo pela maioria das pessoas da vila. A antipatia generalizada
pela figura de Naruto deve-se ao fato de ele trazer encerrada em si a
calamidade que quase aniquilou a Folha. Não obstante, a fim de evitar que ele
passasse por mais sofrimento, o Hokage
proibiu terminantemente todos os aldeões de mencionar o selamento da Raposa, de
maneira que Naruto só vem tomar conhecimento da razão pela qual os seus compatriotas
o desprezam ao final do primeiro episódio do anime e a revelação se dá de forma
excepcionalmente dramática. O garoto é envolvido numa trama suja para roubar um
pergaminho secreto, sem saber que está sendo usado por um dos professores da
academia para tanto. No exato momento em que se encontrava prestes a ser
assassinado pelo traidor, Naruto é salvo por Iruka, seu professor, com quem
estabelece um vínculo suficientemente forte para superar o preconceito com que
sempre fora visto na Folha. É o início da trajetória do herói mais improvável
do mundo Shinobi, numa jornada
análoga à própria experiência humana: repleta de altos e baixos, descobertas e
decepções, perdas e conquistas, onde ele inclusive se tornará alvo de uma
organização criminosa formada por ninjas de elite – a Akatsuki[5] –
que pretende concentrar o poder de todas as Bestas de Cauda para deflagrar o
Apocalipse no mundo ninja.
3.
Desdobramentos
psicanalíticos na trama
No
que se refere à filosofia presente na trama concebida por Kishimoto, verifica-se
uma maciça presença de ideias comuns à Psicanálise e à Psicologia Analítica
junguiana, embora deva-se salientar que boa parte do arcabouço teórico das duas
abordagens mencionadas, bebeu em vários momentos da filosofia oriental. Sobretudo a escola fundada por Jung depois de
sua ruptura com Freud, onde a questão do simbólico através das culturas foi
analisada por um prisma que transcendeu a teoria clínica propriamente dita,
para ganhar um aspecto mais antropológico ao dialogar com culturas relativamente
distantes do Ocidente judaico-cristão.
Abstração
feita da ruptura com Freud, boa parte das ideias de Jung ainda preservaram o
arcabouço psicanalítico no que se refere às dinâmicas do Inconsciente e os
complexos que lhe são comuns. E é justamente sob o prisma de tal arcabouço que
as considerações acerca de Naruto
serão feitas. A teoria do Complexo de Édipo, que serve de base para o edifício
teórico da Psicanálise, mostra-se presente com grande pujança ao longo da
narrativa de Kishimoto, assim como as implicações que daí derivam.
Os
conceitos de um “eu oculto” que estaria para além da razão propriamente dita,
veiculados no Ocidente pela abordagem freudiana e pela abordagem junguiana,
encontram eco nas filosofias hinduísta e budista, milenarmente mais antigas que
a escola vienense do Inconsciente iniciada por Freud. A tradição budista, que
surge inicialmente como uma dissidência do hinduísmo, estabelece que o ego é
uma ilusão, havendo uma instância psíquica para além do mesmo e que só poderia
ser acessada pela via da meditação e do autoconhecimento por ela ensejado. O
acesso a tal instância do psiquismo é que favoreceria a iluminação, o Nirvana. A Psicologia Junguiana
utiliza-se do conceito de Self como
sendo uma instância de consciência mais consistente do que o ego, numa analogia
sutil ao ideal nirvânico do budismo. A Psicanálise, por sua vez, não concebe a
existência de tal dimensão de plenitude psíquica, deixando em aberto a condição
de humanidade como sendo um processo de construção constante, mediante a
percepção mais acurada da dinâmica do Inconsciente.
Ambas
as escolas, a freudiana e a junguiana, lidam com o Inconsciente e fundamentam
na sua ação a prática terapêutica que lhes é comum. Em Naruto, o Inconsciente enquanto sinônimo de pulsão[6] em
desalinho é metaforizado pelas Bestas de Cauda. A franca maioria dos
hospedeiros passa uma parte significativa da vida em conflito com as entidades
que foram seladas em seus corpos, numa luta constante para não sucumbir ao
poder da Bijuu que, por ser uma besta
mística, dispõe de poderes psíquicos além da compreensão humana, tal como
ocorre na relação com o Inconsciente e a razão propriamente dita. Via de regra,
o Jinchuuriki libera o poder de sua
respectiva Bijuu quando está sob
pressão emocional extrema, tal como sói ocorrer nos movimentos de surto em que
o indivíduo rompe temporariamente com a realidade e pode praticar atos que
normalmente não levaria a efeito quando em pleno gozo da razão.
A
forma como a dinâmica psíquica é retratada na obra de Kishimoto não deixa de
lembrar as considerações tecidas por Ricoeur acerca da função da metáfora:
[...] Neste
sentido, uma metáfora é uma criação instantânea, uma inovação semântica que não
tem estatuto na linguagem já estabelecida e que apenas existe em virtude da
atribuição de um predicado inabitual e inesperado. Por conseguinte, a metáfora
assemelha-se mais à resolução de um enigma do que a uma associação simples
baseada na semelhança; é constituída pela resolução de uma dissonância
semântica. (RICOEUR, 1995, p. 99-100)
A
presença das Bijuus na narrativa
presta-se às duas circunstâncias mencionadas por Ricoeur. Tanto simboliza o
intraduzível do Inconsciente através da imagem da fúria incontrolável da
natureza, quanto se propõe a responder o enigma da dicotomia razão/desejo
aludida pela Psicanálise, por meio da tumultuosa relação dos hospedeiros com as
bestas místicas seladas em seus corpos. Na verdade, a metáfora das Bestas de
Cauda materializa inclusive o dramático dessa circunstância, onde apenas a
morte pode operar a cisão definitiva entre o sujeito da razão estabelecido pela
cultura e o sujeito do desejo selado pelas convenções sociais.
Em Naruto
o Inconsciente se materializa como uma dimensão psíquica habitada pelas pulsões
de vida e de morte, onde ora o indivíduo é colocado em situação de extremo
risco pelas manifestações que lá têm lugar, ora é salvo do perigo justamente
por essas mesmas manifestações. No caso específico do protagonista, é o poder
da Raposa de Nove Caudas que mais de uma vez o salva de perigos mortais. Em
outras circunstâncias, é também o motivo pelo qual ele é posto em perigo. Um
momento bastante emblemático dessa circunstância ambígua do Inconsciente na
narrativa do mangá/anime, tem lugar quando a Quarta Grande Guerra Ninja é
deflagrada. A Aliança Shinobi, nascida da união inédita das
cinco grandes nações, opta por esconder Naruto em uma ilha secreta da Nuvem,
onde o personagem terá a possibilidade de ser treinado por Killer Bee, o
portador da Besta de Oito Caudas. Tanto Bee quanto Naruto são o alvo principal
da Akatsuki, uma vez que ambos
possuem as últimas Bijuus necessárias
para reviver a lendária Besta Primordial. Bee é um dos poucos hospedeiros
capazes de estabelecer um vínculo com a sua Bijuu,
ao ponto de ambos lutarem unindo forças e dialogarem sem maiores problemas. O
treinamento de Bee faculta a Naruto a possibilidade de estabelecer um vínculo
legítimo com a Raposa de Nove Caudas, um vínculo para além da circunstância
meramente compulsória do selamento. De forma que, ao mesmo tempo em que os
personagens em questão se encontram em perigo iminente pelo fato de abrigarem
as bestas em seus corpos, também têm nesse fato a possibilidade de lutar
abertamente contra o inimigo em questão. Posteriormente, Naruto e Bee ingressam
na batalha a despeito da ferrenha oposição da principal liderança da Aliança Shinobi, tornando-se peças fundamentais
para a derrota da Akatsuki.
4.
Da
cena edípica à retificação subjetiva
O
mito de Édipo, extraído por Freud da célebre trilogia trágica de Sófocles e que
se tornou um dos pilares principais da teoria psicanalítica, trata basicamente
de um príncipe tebano fadado a assassinar o pai e desposar a própria mãe que,
tentando fugir a tão hórrido destino, acaba por consumá-lo sem se dar conta. A
analogia freudiana remete justamente à dinâmica do Inconsciente, onde o
sujeito, absorto no afã de evitar o sofrimento, acaba por materializá-lo quando
supunha não fazê-lo.
Na
verdade, quando Freud cunhou o termo “Complexo de Édipo”, referia-se
inicialmente à estrutura familiar burguesa, presente na sociedade vienense de
sua época e pautada por valores característicos da era vitoriana ainda vigente.
A ideia inicial era trazer, por meio desta analogia, a primeira experiência de
castração vivenciada pelo sujeito e que consistia na impossibilidade de ter
para si em caráter definitivo o primeiro grande amor, ou seja, a figura
materna. A presença do pai ou, na ausência concreta de tal figura, a presença
do “nome do pai” a que se refere Lacan (1999), seria o interdito à consecução
do desejo incestuoso. Não obstante, há que se considerar o fato de que a teoria
freudiana serve aqui tão somente na qualidade de lastro teórico, uma vez que
tanto o ambiente cultural em que surge a narrativa de Kishimoto, quanto o mundo
criado pelo quadrinista nipônico, se inscrevem em uma dimensão assaz diversa do
Ocidente.
Em
se tratando de Naruto, a consecução
do desejo incestuoso consistiria no desaparecimento do sujeito hospedeiro,
tragado pela voracidade de Besta de Cauda. A mãe nessa cena seria muito mais o
discurso cultural do mundo Shinobi,
do que a genitora propriamente dita. Aliás, é pertinente assinalar que dois dos
principais Jinchuurikis na narrativa,
Naruto e Gaara, perderam as mães quando do nascimento. Simbolicamente, as mães
enquanto genitoras saem de cena, para que subsista tão somente a Grande Mãe que
cada aldeia representa.
O treinamento iniciado por Killer Bee consiste
basicamente na confrontação de tudo aquilo que o Jinchuuriki evitou enxergar ao longo de sua vida. Admitir o ódio, o
medo e a frustração – emoções comuns aos hospedeiros das Bestas – decorrentes
de uma existência repleta de privações, é o primeiro passo para o contato
direto com a Bijuu. Após cumprir as
etapas necessárias a isso, Naruto inicia o trabalho de integração com Kurama
(esse o nome da Raposa de Nove Caudas), num procedimento análogo ao que ocorre
no processo psicanalítico, já que ele teve de se haver com a instância paterna
e a instância materna inscritas no seu Inconsciente.
É
oportuno salientar duas circunstâncias em que ocorreu uma liberação profusa de
conteúdos recalcados no Inconsciente. Em ambas, Naruto teve acesso à sua
história pregressa. Mais precisamente, descobriu quem eram os seus pais e qual
a razão de não ter convivido com os mesmos. A primeira ocasião se deu quando da
batalha contra um dos principais líderes da Akatsuki,
onde o jovem Uzumaki liberou o poder da Raposa numa proporção descomunal.
Quando estava prestes a romper completamente o selo e abdicar da consciência em
definitvo, Naruto se deparou com a figura do Quarto Hokage, que o deteve e revelou ser na verdade o seu pai. A
intervenção de Minato obstando-o de liberar em completude as pulsões
desgovernadas, remete às considerações de Lacan sobre o “nome do pai”, quando
considera a questão dos três tempos do Édipo:
No primeiro tempo e na primeira
etapa, portanto, trata-se disto: o sujeito se identifica especularmente com
aquilo que é objeto do desejo de sua mãe. Essa é a etapa fálica primitiva,
aquela em que a metáfora paterna age por si só, uma vez que a primazia do falo
já está instaurada no mundo pela existência do símbolo do discurso e da lei.
(LACAN, 1999, p. 198)
A
identificação com o desejo materno é simbolizado tanto pela Raposa que foi
repassada ao protagonista logo após o seu nascimento, quanto pela sua
identificação com a figura do Quarto Hokage,
sempre venerado pela mãe sob cuja égide o garoto cresceu: a própria Vila da
Folha. Naruto herdara a Bijuu de
Kushina (a mãe biológica) e fora sempre exposto às vicissitudes da sua condição
de Jinchuuriki pelo discurso cultural
da Folha (a mãe simbólica). A metáfora paterna foi inscrita no Inconsciente do
personagem pela via do discurso cultural. Minato foi o herói que salvou a vila
da destruição e surge na psique de Naruto, justamente quando este se encontra
prestes a liberar a calamidade por ele contida dezesseis anos atrás. Em outras
palavras, o Quarto Hokage
inscreveu-se como um pai grandioso, o ideal de Shinobi que a Folha, na qualidade simbólica de mãe, desejava e
buscava em seus cidadãos. Não sendo Naruto, de forma alguma, exceção a este
primado do desejo materno, com o qual veio a identificar-se
especularmente.
O
encontro entre pai e filho tem lugar nos episódios 167 e 168 da fase Shippuden[7]
(volume 47 do mangá, capítulos 439 e 440)[8]. É
um dos momentos mais emocionantes da série, contando inclusive com um violento
desabafo de Naruto questionando que tipo de pai selaria uma Bijuu no próprio filho. A resposta de
Minato é desconcertante e traduz muito bem a inscrição do sujeito na condição
faltosa. Ele afirma de forma categórica que o filho seria capaz de usar o poder
da Raposa para evitar que uma imensa calamidade destruísse o mundo ninja. A
reação de Naruto é de total incredulidade. Ele diz que todos nutrem
expectativas demais a seu respeito, mas que não dispõe de meios pra fazer o que
esperam dele. O Quarto Hokage, longe
de se dar por vencido, sentencia peremptório: “ser um pai é ter grande
confiança em seus filhos.” Logo em seguida, Minato reconstrói o selo
(localizado justamente no umbigo, não por acaso), frisando que o fará pela
última vez. É o corte capaz de separar o sujeito da demanda materna que, no
caso de Naruto, seriam as exageradas expectativas e cobranças da vila a que
ele, inconscientemente, se submetia.
A
ação de Minato impedindo a liberação de Kurama remete ao segundo tempo do Édipo
(LACAN, 1999), onde o pai se inscreve como a lei, a instância capaz de impedir
que a demanda materna faça o indivíduo afundar na ilusão de ser o objeto de
gozo da mãe. No terceiro momento, o pai deixa de ser apenas uma instância de
discurso para se converter em alguém real, concreto. Até o contato com Minato
no momento em que iria liberar a Raposa, Naruto conhecia tão somente o herói
lendário que evitou a destruição da Folha. Ao final desse encontro, Naruto conhece
o pai, o seu pai. O homem que, apesar
de todo o poder e renome com que foi ornado pela cultura (o discurso da mãe
simbólica), não conseguiu impedir os planos de um misterioso mascarado que
lançou a Bijuu contra a vila. Minato
incumbe Naruto de deter o inimigo, revelando-se desta forma não como o pai onipotente da tradição veiculada na
Folha, mas sim como o pai potente, o
sujeito faltoso que não pode fazer tudo e, ao assumir tal condição, demonstra
para o filho que ele também terá de se haver com a própria condição faltosa.
A
segunda ocasião se deu durante o treinamento com Killer Bee, quando Naruto
entrou em contato com a sua instância materna. A cena em que ele consegue
encontrar-se com Kushina é de uma riqueza simbólica magnífica. O protagonista
libera Kurama da prisão e a enfrenta de igual para igual, extraindo da Bijuu uma quantidade considerável de chakra[9].
É a metáfora da extração do gozo a
que se referem os psicanalistas, quando do corte capaz de separar o indivíduo
da imago materna a que se mantém
preso. A este respeito, é oportuno mais uma vez trazer Lacan (1999, p. 198),
quando se refere ao segundo tempo do Édipo:
Segundo tempo. Eu lhes disse que,
no plano imaginário, o pai intervém efetivamente como privador da mãe, o que
significa que a demanda endereçada ao Outro, caso transmitida como convém, será
encaminhada a um tribunal superior, se assim posso me expressar.
Note-se
que o encontro entre Naruto e Kushina só ocorre depois de o pai se constituir
efetivamente como a metáfora da lei, o interdito, quando do episódio em que
Minato impede o filho de ser tragado pela pulsão. Esse corte foi fundamental
para que o jovem Uzumaki pudesse extrair o chakra
de Kurama – literalmente, extrair a mãe do torvelinho das pulsões e dissociá-la
das mesmas – a fim de ficar frente a frente com a genitora que, apesar de
ausente, inscreveu-se no Inconsciente do filho de forma extremamente pujante.
O terceiro tempo é este: o pai
pode dar à mãe o que ela deseja, e pode dar porque o possui. Aqui intervém,
portanto, a existência da potência no sentido genital da palavra – digamos que
o pai é um pai potente. Por causa disso, a relação com o pai torna a passar
para o plano real. (LACAN, 1999, p. 200)
O jovem Uzumaki é, desta forma, “entregue” à
mãe depois de ter se avistado com a lei representada pelo pai. O simples fato
de Naruto levar o nome da mãe (Uzumaki) ao invés do sobrenome paterno, numa
cultura altamente centrada no modelo patriarcal como o é a cultura nipônica, já
é algo bastante significativo. A nível de personalidade, Naruto inclusive é bem
mais parecido com Kushina do que com Minato, posto que a mãe era extremamente
geniosa e temperamental, enquanto o pai era firme e conciliador.
Digo exatamente: o pai é um
significante que substitui um outro significante. Nisso está o pilar, o pilar
essencial, o pilar único da intervenção do pai no Complexo de Édipo. E, não
sendo nesse nível que vocês procuram as carências paternas, não irão
encontrá-las em nenhum outro lugar. (Idem, p. 180)
Após o contato com as suas raízes, Naruto
torna-se capaz de utilizar o poder de Kurama sem estar exposto às intempéries
emocionais que antes o acometiam e o deixavam a mercê da Bijuu. Estabelece-se um equilíbrio entre as duas partes, hospedeiro
e Besta de Cauda, para além do campo de batalha. Naruto torna-se capaz de
reconhecer a importância de trazer em si a Raposa de Nove Caudas, ao mesmo
tempo em que Kurama põe de lado o ódio extremo que nutria pelos humanos em
virtude dos muitos abusos sofridos no passado. É quando tem lugar o que se
denomina em Psicanálise de retificação
subjetiva.
Muitas vezes
supõe-se que, em análise, todo o mal vem do que ocorreu muito antes, no
relacionar-se com os pais, com o irmão mais velho, com a irmã mais nova. Desse
modo, porém, o sujeito ficaria despossuído de seu estatuto. Nós analistas
sabemos muito bem que não é assim. Ao contrário, dá-se a retificação subjetiva,
quando, em análise, o sujeito aprende sua responsabilidade essencial no que
ocorre. O paradoxo é o lugar da responsabilidade do sujeito ser o mesmo do
inconsciente. (MILLER, 1997, p. 255)
A
retificação subjetiva é o que ocorre quando o sujeito se dá conta da falta e,
ao invés de tentar tamponá-la, compreende que é justamente a falta aquilo que o
estrutura. Entenda-se a falta enquanto metáfora para a interdição ao desejo
incestuoso ocorrida nos primeiros anos de vida e que reverbera na vida adulta,
fazendo o indivíduo dar-se conta da necessidade de admitir que nem sempre terá
tudo que mais ambiciona. Na verdade, é justamente esta a função principal do
corte, da castração: habilitar o sujeito à compreensão de que a falta será uma
constante invariável ao longo da existência e que viver significa confrontar a
falta seguidamente. Sintetizando, poder-se-ia dizer que a castração é o ponto
de nascimento da alma. (LACAN, 2010)
No
caso de Naruto, a falta representada pela orfandade foi justamente o que o
estruturou enquanto sujeito, ou melhor, que fez dele o que é. Mesmo não tendo
conhecido os pais, a metáfora paterna se fez assaz pujante em sua vida. A
ausência física dos genitores não os excluiu da dinâmica psíquica no
Inconsciente do personagem, antes os tornou ainda mais presentes, ao ponto de
ele defrontar-se com as instâncias correspondentes a Minato e a Kushina,
justamente em momentos de grande tensão. Momentos que foram decisivos para a
sua responsabilização por si mesmo. Quando finalmente entendeu que poderia
escolher o que fazer do que havia sido feito dele até ali, Naruto decide-se por
ingressar no combate. Ele se expõe não apenas ao risco de ser capturado e morto
na guerra, mas também se expõe às punições que a Aliança Shinobi estava disposta a aplicar para mantê-lo vivo e em
segurança.
No
primeiro episódio da série (volume 1 do mangá, primeiros capítulos), Naruto
picha o monumento Hokage e é
posteriormente punido por isso. Indagado pelo seu professor sobre a razão de
fazê-lo, o garoto diz que irá superar todos os Hokages anteriores, incluindo o Quarto, por quem nutre uma imensa
admiração. Inconscientemente, o jovem Uzumaki tenta destronar o pai em busca do
poder da vila (que faz a função materna na ausência física de Kushina), numa
triangulação edípica das mais clássicas. O pai – que ele até então desconhecia
– é alvo tanto da sua admiração quanto da sua rivalidade. É apenas depois de
tomar conhecimento da verdade sobre o seu nascimento e das razões pelas quais
tais fatos sempre foram mantidos na sombra, que Naruto se torna apto a utilizar
o poder de Kurama e se tornar a peça fundamental para o fim da Quarta Guerra
Ninja.
O
personagem vai amadurecendo ao longo da trama, descobrindo nos transes que o
acometeram ao longo da existência, os meios necessários para transpor as
dificuldades com que se defronta, tal como afirma Moliné (2004,
pp. 29-30), ao conjecturar sobre o aspecto psicológico presente
nas narrativas comuns à cultura pop nipônica:
[...] na maioria das vezes,
os protagonistas de um mangá tem seu lado psicológico mais profundamente
abordado que os ‘heróis de papel’ ocidentais. Diferente do arquétipo do herói
100% perfeito, os personagens têm seus defeitos e sentimentos: riem, choram,
crescem, amadurecem e alguns morrem, como Anthony Andrew em Candy Candy, Toru Rikiishi em Ashita no Joe, Tochiro Oyama em Captain Tsubasa Harlock ou Kazuya Uesugi
em Touch, entre outros; paralelamente
ao desenvolvimento do mangá, aprendem a partir de seus erros, e sua história
quase sempre tem um final definitivo, quando o autor conclui uma série.
A
conclusão de Naruto mostra um
personagem completamente diferente do garoto arruaceiro e irritante do início
da série. Respeitado pelos concidadãos da Folha e aclamado pelas demais nações
como o grande herói que salvou o mundo ninja de um colapso, o filho de Minato e
Kushina assume o posto de Hokage,
sendo o sétimo a dirigir a vila. Nas escassas produções que ainda se seguem à
conclusão da trama no mangá, Naruto se mostra um líder legítimo, empático e
firme. Agora casado, pai de um casal de pré-adolescentes, ele tem de se haver
com a rebeldia do filho que não se conforma em perder o pai para o posto de Hokage. Premido pelas responsabilidades
do cargo, a sua família agora passa a ser a vila como um todo, mas nem por isso
ele deixa de se impor ao jovem Boruto quando percebe que ele passa dos limites,
repetindo a mesma conduta birrenta do pai quando este tinha sua idade.
5
Considerações
Finais
Estabelecer
um paralelo entre uma linha de pensamento comum à cultura ocidental e uma obra
produzida em um ambiente diverso deste mesmo ambiente, é tarefa das mais
delicadas. Não é de forma alguma a pretensão deste estudo afirmar que a
narrativa desenvolvida por Kishimoto se baseie em conceitos psicanalíticos,
mesmo porque, como já explicado mais acima, as teorias acerca do Inconsciente
só vieram ganhar notoriedade no Ocidente graças a ação de Freud, no período
compreendido entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
Por outro lado, boa parte desta mesma teoria freudiana frutificou a partir das
ideias de Schopenhauer (TRINDADE, 2013) que, a seu turno, teve contato mais
direto com a filosofia oriental. De maneira que a ideia de um Inconsciente ou
“eu oculto” nada tem de novo para as culturas asiáticas alicerçadas em
preceitos comuns ao budismo e à tradição hinduísta, de onde derivou o primeiro.
Uma
das maiores contribuições da literatura para o pensamento reside justamente na
possibilidade de simplificar conceitos relativamente complexos e torná-los
apreensíveis. Mais do que isso: a literatura, bem como a arte em suas mais
variadas formas, aproxima o homem de si mesmo ao abstraí-lo das demandas
absorventes e alienantes com que se vê a braços no quotidiano. É o ensejo para
a reflexão que a filosofia nem sempre é capaz de promover por si só, seja pelo
fato de esta última dirigir-se a um público demasiado específico, seja pela
tendência ao excessivo racionalismo que a nossa cultura ocidental apregoa. De
qualquer forma, o diálogo intercultural facultado pela cultura pop nipônica,
propicia ao leitor/telespectador algo mais do que o entretenimento puro e
simples. Oferece-lhe também a possibilidade de ponderar questões de cunho
existencial sem que para isso, no caso específico da Psicanálise, precise estar
inserido no contexto de um processo analítico, para ajuizar sobre o dilema do
sujeito frente à sua condição desejante e faltosa.
Referências bibliográficas
FREUD,
S. Obras psicológicas completas: edição standard brasileira.
Volume XXI Tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
LACAN,
J. O seminário, livro 5: As formações do
Inconsciente. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1999.
_______
O seminário, livro 8: A transferência. Texto
estabelecido por Jacques-Alain Miller; [versão brasileira de Dulce Duque
Estrada; revisão de Romildo do Rêgo Barros]. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Zahar,
2010. pp. 275 – 291.
MILLER,
J. A. Lacan elucidado: palestras no
Brasil. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997 – (Campo Freudiano no Brasil)
MOLINÉ,
A. O grande livro dos mangás. São
Paulo: Editora JBC, 2004.
RICOEUR,
P. Teoria da Interpretação.
Introdução e comentários de Isabel Gomes. Tradução de Artur Morão. Porto,
Portugal: Porto Editora, 1995.
TRINDADE, R. 5 ideias de Schopenhauer que
encontramos em Freud. Razão Inadequada. 02 março 2013. Disponível em:
<http://razaoinadequada.com/2013/03/02/5-ideias-de-schopenhauer-que-encontramos-em-freud/> Acesso em: 16 setembro 2015.
[1]
Mestrando em Literatura e
Interculturalidade pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e bacharel em
Psicologia pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca (Unifavip DeVry). CEP:
55660-000. Bezerros, PE. E-mail: alanpsi1002@gmail.com.
[2] Literalmente, sorrateiro, em japonês. É um dos
principais sinônimos para ninja e um dos termos mais usados ao longo da série
para se referir aos mesmos.
[3]Ho
(fogo), Kage (sombra). Literalmente, a sombra do fogo, em japonês. Os líderes
das grandes nações Shinobi utilizam o
termo Kage sufixando o termo relativo
ao país a que pertencem. O Hokage é o
líder da Folha, assim como o Kazekage
(Kaze = Vento) o é da Areia; o Mizukage (Mizu = Água), da Névoa; O Raikage
(Rai = Raio), da Nuvem e o Tsuchikage (Tsuchi = Terra) o é da Pedra. Vale salientar que tanto homens
quanto mulheres podem ocupar tais cargos de liderança.
[4]Termo usado no anime/mangá para
designar os hospedeiros das Bijuus,
as Bestas de Caudas. Originalmente, Jinchuuriki
ou Hitobashira eram as pessoas
destinadas a servir de sacrifício para os deuses no Japão em épocas mais
remotas. Geralmente, as vítimas eram enterradas vivas nas fundações de uma
construção para garantir que a mesma durasse para sempre. Em Naruto, o papel do Jinchuuriki é bem semelhante, uma vez que os hospedeiros das bestas
são peças-chave para a segurança nacional, sendo simbolicamente sacrificados em
prol do bem-estar da coletividade.
[5]
Há duas interpretações
possíveis para o nome da referida organização e ambas se justificam ao longo da
série. Akatsuki tanto pode
significar “amanhecer”, “alvorada”, quanto pode ser traduzido por “lua
vermelha” (Aka = Vermelho; Tsuki = Lua). A primeira versão tem a
ver com a fundação da organização, inicialmente uma associação Shinobi nascida na Aldeia da Chuva que
pregava o pacifismo e que escolheu esse nome justamente por representar o ideal
de uma era de tolerância e de paz. Posteriormente, quando a ação de Madara Uchiha
– o principal antagonista da trama – subverteu completamente os princípios nos
quais a organização havia sido fundada, a segunda versão passou a referir-se à
Grande Lua Escarlate cuja luz aprisionaria o mundo ninja numa ilusão perpétua,
onde cada indivíduo estaria engolfado na realização do próprio sonho, enquanto
estivesse imerso num sono letárgico. Os ideais de Madara prevaleceram e a Akastuki passou a trabalhar na captura
das Bestas de Cauda, a fim de com isso reviver a Besta Primordial de Dez Caudas
e poder consumar o Mugen Tsukuyomi (Ilusão
Perpétua do Deus da Lua).
[6] Termo comumente usado no meio
psicanalítico para designar as forças libidinais que seriam intermediárias à
razão e ao instinto, sendo basicamente divididas em dois grandes grupos: Pulsão
de Vida e Pulsão de Morte. O termo é usado a princípio por Freud, sendo
posteriormente adotado por Lacan e outros de seus continuadores. A escolha do
termo pulsão ao invés de instinto deve-se ao fato de que a espécie humana
experimenta o primado do instinto apenas no que se refere à necessidade de
sobrevivência. A pulsão, em contrapartida, está para além da sobrevivência. Ela
diz respeito, sobretudo, à ânsia humana de satisfazer desejos inconscientes
relativos a algum tipo de frustração imposta pela cultura. É, numa palavra, uma
espécie de meio termo entre a razão e o instinto propriamente dito.
[7]
Em uma tradução livre, Shippuden pode ser lido como as crônicas do furacão, uma alusão ao
sobrenome materno de Naruto (Uzumaki
= vórtice, redemoinho). A divisão
entre saga clássica e saga Shippuden
existe apenas no anime. O mangá não muda de título quando se inicia essa etapa
da narrativa.
<http://konohaonline.info/capitulos/439#12> e < http://konohaonline.info/capitulos/440#1>. Acesso em 14 agosto 2015,
às 13h26min.
[9]
Do sânscrito: roda. Em Naruto, o chakra é a energia vital
utilizada pelos ninjas para criar técnicas de combate e até mesmo para salvar
vidas. Ninjas médicos como Sakura, Tsunade e Kabuto, são capazes de realizar
cirurgias com chakra e mesmo de infundir chakra nos companheiros, quando estes
se encontram debilitados.
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