Há um ano esse artigo era gestado como requisito da prática de docência no Mestrado da UEPB. Como estamos vivendo o Setembro Amarelo e toda uma intensa campanha de prevenção ao suicídio, julguei a data conveniente para publicar esse trabalho. Um dos mais gratificantes e intensos que pude levar a efeito.
O MARTÍRIO COMO JUSTIFICATIVA PARA O SUICÍDIO EM EURICO, O PRESBÍTERO
Introdução
O estudo a seguir propõe uma
releitura do suicídio a partir do martírio do personagem-título da obra Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano,
apoiando-se para isto nas considerações de Freud (2010) acerca do sofrimento
proveniente das injunções a que o indivíduo se encontra sujeito no processo
civilizatório. Embora o suicídio seja tema recorrente nas produções literárias
do Romantismo, a forma como Herculano se propõe a discutir essa problemática se
revela bastante original e provocativa.
A fim de estabelecer a diferença
entre martírio e suicídio, os apontamentos de Pearson (1997) acerca dos seis
arquétipos do herói serão igualmente considerados, além da discussão do
problema da moralidade em outro texto psicanalítico concernente à religião: O futuro de uma ilusão (FREUD, 1996). O
objetivo é identificar as correlações existentes entre o mal-estar imposto pela
cultura ao indivíduo; o discurso religioso a que o protagonista se rende como
alternativa para tamponar sua angústia; e finalmente o martírio como sofisma
para o suicídio, usando justamente o discurso católico como álibi para a
decisão de dar cabo da própria vida.